Hoje foi dia. Ou melhor, noite. Daquelas.
Mas não daquelas que você está pensando. Eu falo daquelas noites onde se encontra velhas amigas, conta-se antigas piadas e solta-se novas gargalhadas. Porque não há nada melhor do que se sentar, despreocupar-se com o tamanho que se veste (embora o assunto tenha tomado 75,82% do tempo da conversa), botar meio mundo de guloseimas pra dentro e recontar boas histórias.
Porque bom mesmo é alcançar certa idade e perder o pudor com alguns assuntos. É ver que não há maiores problemas em ganhar anos a mais, quilos a mais, estrias, celulites, rugas, espinhas (sim, porque depois de velha chega a puberdade atrasada) e alguns chifres (sim, eles estão aí, mas não os procure). Tudo isso é inerente à maturidade que se alcançou, faz parte de tudo que se andou até chegar onde se está. E o correto é onde mesmo, porque aonde indica movimento ou aproximação. Viu? É bom também ver que no blog tem R$ 0,10 de cultura.
Bom é rir das mesmas historinhas que, ao longo do tempo, vão ficando mais distantes e ganhando um sabor diferente, cada vez que são contadas. O apelido, a viagem, aquela situação constrangedora, o dia D, o porquê, o acesso de riso, o choro que simplesmente não deu pra segurar. O cachorro que bebe água gelada do bebedouro, o filho fantasiado de índio sem cueca, a combinação blusa de poá e calção de listras. Bom é contar metade do povo no quarto assistindo o Popó (eu sei lá quem é Popó, gente, pra mim ele lutava boxe, eu nem sabia que tinha virado ator da Globo) e dar fim ao patê de caranguejo, com a bandeja de salgadinho entre as pernas.
E, fora isso, muito mais. Bom é se sentir em casa, mesmo estando tão distante. É compartilhar idéias que parecem absurdas, mas que não são assim tão no sense quando você conversa com gente igual ou pior que você. Isso é bom demais. É bom ver o quanto se evolui pelas fotos desbotadas, o quão rápido crescem os filhos e nossas barrigas, sem culpa, sem medo, sem arrependimentos. Como bem disse Piaf, No! I will have no regrets! All the things that went wrong, for at least I have learned to be strong.
E, ao fim de mais uma noite daquelas, bom é dar adeus sabendo que virão outras noites assim. Bom é sair de alma lavada pelos sorrisos, tendo a certeza de que não adianta apegar-se tanto com coisas pequenas, materiais, porque no entardecer da vida, o que nos restará mesmo é a caixa e a música célebre do mestre Reginaldo Rossi reinventada. Vem, siñor Miagui!