terça-feira, 23 de novembro de 2010

Por uma Saudade Maior

Pega de surpresa hoje: um telefonema e a notícia que perdi uma amiga em um estúpido acidente de trânsito. No jornal, noticiaram que ela tinha 35 anos, seu nome completo e que morreu na hora, sem chance alguma.

Mas vai muito além disso. 

Convivemos por cinco anos, todos os dias, na faculdade. Fizemos trabalhos juntas, estudamos, saímos, nos divertimos, rimos, brigamos, choramos, vimos a formatura uma da outra, o casamento, os filhos que vieram depois. E eu lembrei de tanta coisa... 

Lembrei que ela tinha a voz rouca e quando falava demais, ficava sem voz. Que quando pintava o cabelo de vermelho, pintava a nuca, a blusa e as unhas também. Que tinha uma camiseta escrita "Don´t Let Me Down" e toda vez que ia assistir aula com ela, eu cantava a música dos Beatles até o final do primeiro tempo (era mais forte que eu). Que as duas gostavam de Claudinho e Bochecha e dançamos muito aquela dança esquisita, sem ligar para o ridículo que era pular segurando o nariz. Que pegávamos o ônibus juntas, correndo pelo terminal, batalhando por uma vaga porque a aula ia começar às 7hs em ponto. Ela ficou do meu lado quando eu enterrei minha mãe.

E, infelizmente, lembrei também que já há muito tínhamos perdido o contato. Depois que nos formamos e com o passar dos anos, tudo isso se tornou passado. Lembrei que recebi alguns recados seus me mandando abraços e fiquei de responder todos eles depois. Que sabia o dia de seu aniversário (era 31 de agosto) e lembrava dele todos os anos, mas me contentava só em lembrar e não ligava nem mandava mensagem, porque eu achava que era suficiente. 

Só hoje percebi que não era.

Não cabe a mim entender todos os desígnios de Deus nem tampouco questioná-los, mas o vazio que vai em meu coração agora é grande o suficiente pra me fazer cair em tentação e perguntar "Mas, Senhor, por que? Assim como pra mim, também a vida estava começando pra ela. Ela tinha planos como eu e a mesma vontade de ser feliz e se realizar. Ela tinha irmãs, sobrinhos, marido e deixou coisas inacabadas..."

Como bem disse Pedro Bial, a morte é uma piada sem graça de dor e perplexidade, um chiste onde outros terão que apagar as pistas que foram deixadas por você uma vida inteira. Morrer é mesmo um exagero, Bial. Porém, antes de terminar, deixo aqui minha certeza - apesar de toda a dor - que existe algo muito maior que um fim brusco, um ponto final. 

Acredito na Vida Eterna e em tudo que Deus preparou para esse momento inevitável. À você, amiga Maryele, minha saudade maior por tudo que não falamos e não vivemos, por uma vida interrompida no meio da melhor dança que poderíamos dançar.