terça-feira, 27 de agosto de 2013

I Coríntios 13, 13

Ela vinha andando na rua, voltando pra casa. Passava das duas da tarde, o sol estava a pino, um calor mais ou menos, pouco vento. Em uma das esquinas encontrou uma senhora olhando pra cima, de um lado pro outro, como quem procura uma resposta. O olhar das duas se encontrou. A senhora perguntou:
- Sabe me dizer onde tem um salão aqui perto?
Tinha algo errado com aquela pergunta. Era uma senhora sofrida, dava pra ver; tinha duas sacolas e uma bolsa na mão, muito peso, pouca altura, cabelos desgrenhados, suor por todos os poros e lágrimas que começavam a se formar. Sinceramente, o preconceito dizia a ela que um salão era a última coisa que a senhora buscava.
- Um salão? Respondeu ela. A senhora está procurando um salão?
- Ou uma repartição pública, pode ser. Você trabalha numa repartição pública, é?
Daí veio a pergunta que devia ter sido feita desde o início:
- A senhora precisa de alguma coisa? Posso lhe ajudar?
Nitidamente tentando conter o choro, a senhora respondeu:
- Preciso. Preciso muito. Minha filha foi diagnosticada com síndrome do pânico e precisa tomar um remédio que o posto não dá. Ela não trabalha mais, aí eu saio de casa agora com esses panos de prato, colchas de cama e paninhos de almofadas pra vender e apurar o dinheiro do remédio. Mas....
- Ainda falta muito?
- Falta, filha, falta uns 20 reais. Hoje não vendi nada ainda.
- A senhora já almoçou?
E ela olhou para a outra como se a tivesse vendo, finalmente, pela primeira vez desde que começaram a conversar.
- Não, ainda não.
Eram 2 da tarde. E a senhora não tinha sequer almoçado ainda, nem tinha vendido nada. Onde é que estava a esperança dela aquela altura, Senhor?!
- Pois então vamos ali, resolver uma coisa de cada vez, ok?
Depois disso, pegou no braço suado da senhora e a conduziu por mais meio quarteirão. A senhora aproveitou e apoiou-se um pouco nela, dizendo tão baixo que ela mal pôde escutar:
- Como dói esse joelho, mas não posso reclamar, tem que ir em frente, assim é a vida... Deus me mandou um anjo...
- O que a senhora costuma pedir a Deus em oração?
- Força
- Experimente pedir um pouco de resignação. Às vezes vale mais que força, principalmente nas horas mais escuras.
- As pessoas andam com o coração endurecido demais, eu entendo. Mas você salvou meu dia.
Sorriram.
Chegaram.
Depois disso, um bom prato de comida, uma bebida pra aliviar o calor, 20 reais (que fez a senhora insistir muito "escolha o pano que quiser, pode escolher" e ela recusar respondendo "é dado, continue vendendo") e aquela benção que faz tudo valer a pena:
- Deus há de lhe dar em dobro, vai abençoar seu lar, sua família. Deus lhe pague, filha.
- Amém, respondeu ela.
E foi embora.
Só então ela lembrou que não tinham se apresentado. Mas isso não tinha muita importância.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Como eu gostaria que me tirasse a roupa*




De pé no meio do quarto, começas me puxando com uma das mãos e me fazes caminhar ao teu redor, os saltos dos sapatos entoando no piso, o vestido curto balançando ao ritmo dos passos.
Ajoelhas-te e fazes-me parar em frente ao teu rosto, enquanto as tuas mãos sobem pelas minhas pernas, aninhando-se por trás dos joelhos e forçando-as a afastarem-se delicadamente.
Com os olhos fechados, aspiras o perfume que se solta do meu corpo e sinto que a excitação lhe invade.

Baixando o corpo, vais beijando o peito dos meus pés, subindo pelo tornozelo, até minha barriga, trêmula. Vais alternando os beijos entre uma perna e outra, os dedos rápidos subindo curiosos pelas minhas coxas. Ergues o vestido e o segura com uma das mãos, enquanto a outra se espalma em minhas curvas, impulsionando meu corpo contra o teu rosto.
Sinto sua boca quente por cima do pequeno triângulo de renda, mordendo levemente a carne quente que se oferece. Soltando o vestido, leva os dedos ao elástico da calcinha e procura o contato direto com a umidade que já sente através do tecido.

Acaricia-me com cuidado, penetrando um dedo no meio das coxas, onde te recebe ansiosamente.
Suspiro e te ouço dizer: – Tira o vestido.

Já livre da roupa, puxa ainda mais o elástico da calcinha e a pressão causa-me um estremecimento de prazer. Gemo baixinho. Deita-me suavemente e começa a acariciar-me a pele devagar, beijando com um pouco mais de volúpia as ancas que empurro involuntariamente contra a tua boca. 
Entre as minhas pernas dança teu peso inquieto. Gemo com mais força, pois promete-me uma aproximação que anseio.

Apertas-me novamente, cheirando, mordendo e acariciando com dedos molhados o néctar que vai escorrendo.Começas a puxá-la com os dentes, baixando lentamente a calcinha, enquanto tuas mãos vão acariciando minhas coxas. 

E, entre carícias mais arrebatadoras e beijos, desejo-te.
Ergues uma das minhas pernas e coloca-a no teu ombro, enquanto me seguras com as mãos abertas, os dedos cravados na carne, empurrando-me simultaneamente na direção da tua boca, que quer me saborear.

Fecho os olhos e sinto os lábios úmidos de tesão, a língua que brinca, os dedos que me penetram num vaivém voluptuoso que me enlouquece.
Olhas-me e sorris.
Depois…

A noite é toda nossa.


* Escrito a duas mãos. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

May your glass be ever full

Aposto dois dedos da mão esquerda (sou destra) que você conhece mais de quatro pessoas que já escreveram sobre esperança e dor. Aliás, poucos assuntos dão mais ibope que esses dois. De Clarice Lispector a Pedro Bial, de Kafka a Caio F. Abreu, dezenas de centenas já gastaram seus centavos escrevendo sobre como dói a falta de esperança, ou como esperamos por dias melhores depois da dor, blá blá blá.

Sinceramente? Só sabe quem vive. Aquele rombo do tamanho da cratera de Yucatán que mora no seu peito, só você sabe onde começa e onde termina. De nada adianta buscar em outras linhas aquilo que seu coração (ou a falta dele) sofre e chora. Por isso, ler sobre esperança e dor é importante, ver filmes que abordam o tema, idem; porém, nada mais eficaz do que - simplesmente - curtir sua fossa no modo #dicumforça.

E seja consciente que, depois de mergulhar com tudo nela, sairá lavado em seus próprios receios e conquistas. Entenderá mais cedo que os cultos o quanto seu espírito é forte e inquebrantável e, vamos combinar, não há recompensa maior que essa.

Aos amigos de dor e esperança de dias melhores, um brinde! Aos que vivem à margem do sofrimento, lendo Vinícius e ouvindo Gil, meu conselho mais brando: venham brindar conosco...

Tim, Tim!