
Mas vai muito além disso.
Convivemos por cinco anos, todos os dias, na faculdade. Fizemos trabalhos juntas, estudamos, saímos, nos divertimos, rimos, brigamos, choramos, vimos a formatura uma da outra, o casamento, os filhos que vieram depois. E eu lembrei de tanta coisa...
Lembrei que ela tinha a voz rouca e quando falava demais, ficava sem voz. Que quando pintava o cabelo de vermelho, pintava a nuca, a blusa e as unhas também. Que tinha uma camiseta escrita "Don´t Let Me Down" e toda vez que ia assistir aula com ela, eu cantava a música dos Beatles até o final do primeiro tempo (era mais forte que eu). Que as duas gostavam de Claudinho e Bochecha e dançamos muito aquela dança esquisita, sem ligar para o ridículo que era pular segurando o nariz. Que pegávamos o ônibus juntas, correndo pelo terminal, batalhando por uma vaga porque a aula ia começar às 7hs em ponto. Ela ficou do meu lado quando eu enterrei minha mãe.
E, infelizmente, lembrei também que já há muito tínhamos perdido o contato. Depois que nos formamos e com o passar dos anos, tudo isso se tornou passado. Lembrei que recebi alguns recados seus me mandando abraços e fiquei de responder todos eles depois. Que sabia o dia de seu aniversário (era 31 de agosto) e lembrava dele todos os anos, mas me contentava só em lembrar e não ligava nem mandava mensagem, porque eu achava que era suficiente.
Só hoje percebi que não era.
Não cabe a mim entender todos os desígnios de Deus nem tampouco questioná-los, mas o vazio que vai em meu coração agora é grande o suficiente pra me fazer cair em tentação e perguntar "Mas, Senhor, por que? Assim como pra mim, também a vida estava começando pra ela. Ela tinha planos como eu e a mesma vontade de ser feliz e se realizar. Ela tinha irmãs, sobrinhos, marido e deixou coisas inacabadas..."
Como bem disse Pedro Bial, a morte é uma piada sem graça de dor e perplexidade, um chiste onde outros terão que apagar as pistas que foram deixadas por você uma vida inteira. Morrer é mesmo um exagero, Bial. Porém, antes de terminar, deixo aqui minha certeza - apesar de toda a dor - que existe algo muito maior que um fim brusco, um ponto final.
Acredito na Vida Eterna e em tudo que Deus preparou para esse momento inevitável. À você, amiga Maryele, minha saudade maior por tudo que não falamos e não vivemos, por uma vida interrompida no meio da melhor dança que poderíamos dançar.
Assino contigo.
ResponderExcluirBeijos!