terça-feira, 22 de setembro de 2015

...Amém!



Livrai-nos, Senhor
Dos sonhos nunca vividos
Da alma que não se entrega
Das noites que nunca acabam
E da certeza que é cega

Livrai-nos, Senhor
Dos nãos que parecem sem fim
Da decepção que arranha
Do sentimento de culpa
E da sorte que nada ganha

Livrai-nos, Senhor
Do vento que sopra contra
De tantas despedidas
Das quedas sem levantar
E do amor sem medidas

Livrai-nos, Senhor
Dos males do corpo e da alma
Da palavra sem vida e vazia
De todo sentimento falso
E da reação tardia

Livrai-nos, Senhor
Por fim
Do que nunca devia ter sido
Do choro sem cabimento
Da vela ao sabor do vento
E do poema esquecido.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

I Coríntios 13, 13

Ela vinha andando na rua, voltando pra casa. Passava das duas da tarde, o sol estava a pino, um calor mais ou menos, pouco vento. Em uma das esquinas encontrou uma senhora olhando pra cima, de um lado pro outro, como quem procura uma resposta. O olhar das duas se encontrou. A senhora perguntou:
- Sabe me dizer onde tem um salão aqui perto?
Tinha algo errado com aquela pergunta. Era uma senhora sofrida, dava pra ver; tinha duas sacolas e uma bolsa na mão, muito peso, pouca altura, cabelos desgrenhados, suor por todos os poros e lágrimas que começavam a se formar. Sinceramente, o preconceito dizia a ela que um salão era a última coisa que a senhora buscava.
- Um salão? Respondeu ela. A senhora está procurando um salão?
- Ou uma repartição pública, pode ser. Você trabalha numa repartição pública, é?
Daí veio a pergunta que devia ter sido feita desde o início:
- A senhora precisa de alguma coisa? Posso lhe ajudar?
Nitidamente tentando conter o choro, a senhora respondeu:
- Preciso. Preciso muito. Minha filha foi diagnosticada com síndrome do pânico e precisa tomar um remédio que o posto não dá. Ela não trabalha mais, aí eu saio de casa agora com esses panos de prato, colchas de cama e paninhos de almofadas pra vender e apurar o dinheiro do remédio. Mas....
- Ainda falta muito?
- Falta, filha, falta uns 20 reais. Hoje não vendi nada ainda.
- A senhora já almoçou?
E ela olhou para a outra como se a tivesse vendo, finalmente, pela primeira vez desde que começaram a conversar.
- Não, ainda não.
Eram 2 da tarde. E a senhora não tinha sequer almoçado ainda, nem tinha vendido nada. Onde é que estava a esperança dela aquela altura, Senhor?!
- Pois então vamos ali, resolver uma coisa de cada vez, ok?
Depois disso, pegou no braço suado da senhora e a conduziu por mais meio quarteirão. A senhora aproveitou e apoiou-se um pouco nela, dizendo tão baixo que ela mal pôde escutar:
- Como dói esse joelho, mas não posso reclamar, tem que ir em frente, assim é a vida... Deus me mandou um anjo...
- O que a senhora costuma pedir a Deus em oração?
- Força
- Experimente pedir um pouco de resignação. Às vezes vale mais que força, principalmente nas horas mais escuras.
- As pessoas andam com o coração endurecido demais, eu entendo. Mas você salvou meu dia.
Sorriram.
Chegaram.
Depois disso, um bom prato de comida, uma bebida pra aliviar o calor, 20 reais (que fez a senhora insistir muito "escolha o pano que quiser, pode escolher" e ela recusar respondendo "é dado, continue vendendo") e aquela benção que faz tudo valer a pena:
- Deus há de lhe dar em dobro, vai abençoar seu lar, sua família. Deus lhe pague, filha.
- Amém, respondeu ela.
E foi embora.
Só então ela lembrou que não tinham se apresentado. Mas isso não tinha muita importância.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Como eu gostaria que me tirasse a roupa*




De pé no meio do quarto, começas me puxando com uma das mãos e me fazes caminhar ao teu redor, os saltos dos sapatos entoando no piso, o vestido curto balançando ao ritmo dos passos.
Ajoelhas-te e fazes-me parar em frente ao teu rosto, enquanto as tuas mãos sobem pelas minhas pernas, aninhando-se por trás dos joelhos e forçando-as a afastarem-se delicadamente.
Com os olhos fechados, aspiras o perfume que se solta do meu corpo e sinto que a excitação lhe invade.

Baixando o corpo, vais beijando o peito dos meus pés, subindo pelo tornozelo, até minha barriga, trêmula. Vais alternando os beijos entre uma perna e outra, os dedos rápidos subindo curiosos pelas minhas coxas. Ergues o vestido e o segura com uma das mãos, enquanto a outra se espalma em minhas curvas, impulsionando meu corpo contra o teu rosto.
Sinto sua boca quente por cima do pequeno triângulo de renda, mordendo levemente a carne quente que se oferece. Soltando o vestido, leva os dedos ao elástico da calcinha e procura o contato direto com a umidade que já sente através do tecido.

Acaricia-me com cuidado, penetrando um dedo no meio das coxas, onde te recebe ansiosamente.
Suspiro e te ouço dizer: – Tira o vestido.

Já livre da roupa, puxa ainda mais o elástico da calcinha e a pressão causa-me um estremecimento de prazer. Gemo baixinho. Deita-me suavemente e começa a acariciar-me a pele devagar, beijando com um pouco mais de volúpia as ancas que empurro involuntariamente contra a tua boca. 
Entre as minhas pernas dança teu peso inquieto. Gemo com mais força, pois promete-me uma aproximação que anseio.

Apertas-me novamente, cheirando, mordendo e acariciando com dedos molhados o néctar que vai escorrendo.Começas a puxá-la com os dentes, baixando lentamente a calcinha, enquanto tuas mãos vão acariciando minhas coxas. 

E, entre carícias mais arrebatadoras e beijos, desejo-te.
Ergues uma das minhas pernas e coloca-a no teu ombro, enquanto me seguras com as mãos abertas, os dedos cravados na carne, empurrando-me simultaneamente na direção da tua boca, que quer me saborear.

Fecho os olhos e sinto os lábios úmidos de tesão, a língua que brinca, os dedos que me penetram num vaivém voluptuoso que me enlouquece.
Olhas-me e sorris.
Depois…

A noite é toda nossa.


* Escrito a duas mãos. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

May your glass be ever full

Aposto dois dedos da mão esquerda (sou destra) que você conhece mais de quatro pessoas que já escreveram sobre esperança e dor. Aliás, poucos assuntos dão mais ibope que esses dois. De Clarice Lispector a Pedro Bial, de Kafka a Caio F. Abreu, dezenas de centenas já gastaram seus centavos escrevendo sobre como dói a falta de esperança, ou como esperamos por dias melhores depois da dor, blá blá blá.

Sinceramente? Só sabe quem vive. Aquele rombo do tamanho da cratera de Yucatán que mora no seu peito, só você sabe onde começa e onde termina. De nada adianta buscar em outras linhas aquilo que seu coração (ou a falta dele) sofre e chora. Por isso, ler sobre esperança e dor é importante, ver filmes que abordam o tema, idem; porém, nada mais eficaz do que - simplesmente - curtir sua fossa no modo #dicumforça.

E seja consciente que, depois de mergulhar com tudo nela, sairá lavado em seus próprios receios e conquistas. Entenderá mais cedo que os cultos o quanto seu espírito é forte e inquebrantável e, vamos combinar, não há recompensa maior que essa.

Aos amigos de dor e esperança de dias melhores, um brinde! Aos que vivem à margem do sofrimento, lendo Vinícius e ouvindo Gil, meu conselho mais brando: venham brindar conosco...

Tim, Tim!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Mal Traçadas Linhas

Se você fosse um diário, hoje eu escreveria sobre minha vida. Não toda ela, claro, só uma pequena parte.
Talvez o presente já fosse suficiente pra encher um punhado de páginas.
Eu escreveria sobre a maldade velada de algumas pessoas, sobre as atitudes grosseiras e gratuitas que recebo dia após dia e sobre como eu também - confesso - não consigo ser uma pessoa melhor e relevar tudo isso. Sobre como eu julgo e sou julgada com facilidade. Sobre como mudo de humor e alterno fé e desespero na mesma frase, no mesmo pensamento.
Também dedicaria algumas linhas para lhe contar sobre os meus sonhos de hoje (porque os de ontem já se foram), sobre como são lindos e perfeitos, mas são distantes na mesma proporção de sua beleza. 
Tão distantes que meus braços não conseguem alcançá-los. 
Ou preciso de braços maiores ou de sonhos mais palpáveis. 


Haveria ainda um capítulo sobre decisões, porque sonhos e decisões estão intimamente ligados, ainda que inversamente proporcionais. Algumas decisões que tomei foram acertadas, sem sombra de dúvidas, porém de outras me arrependo amargamente. Como não posso voltar o tempo, deixaria duas páginas em branco, em homenagem a tudo que poderia ter sido e não foi. Seria como uma espécie de luto às avessas.
Não sei se falaria dos meus sentimentos. Por mais que tenha tempo para isso, me faltariam palavras. Há certas coisas que, inclusive, nem deveriam ir para o papel. Sou a favor de segredos nesse caso (e em outros casos também). Porém posso dar uma colher de chá e rabiscar algumas dicas: insegurança, serenidade, rancor, alegria, arrependimento, plenitude, mágoa, compaixão, tristeza, inveja, empatia. 
E ainda há espaço para mais um tanto que deixo no ar.
Se você fosse um diário, hoje eu rabiscaria com tanta força que seria capaz de rasgar um pedaço seu. Mas isso não seria um problema, sei que você consegue conviver com suas cicatrizes tão bem quanto eu consigo conviver com as minhas. E não são poucas. O que me remete a outra variável dessa equação: sonhos-decisões-cicatrizes. Fato: essa equação agrega cada vez mais elementos e nem sempre tem um final feliz.
Se você fosse um diário, depois de desabafar tudo isso, eu me sentiria mais leve, mais humana, menos responsável, mais fiel ao que eu realmente sou. E lhe seria imensamente grata por me ouvir, por me dar a chance de compartilhar seja lá o que isso tenha sido: um desabafo, um momento de sinceridade, uma vontade. Fecharia suas páginas, o poria em cima da mesa e sairia pra viver um pouco mais. Porque só assim eu teria mais para escrever amanhã.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Um Pouco Mais de Métrica

Saiba que vi sua foto naquela rede social. 

Tão leve... Sorriso torto... Cabelo rareando... Me pareceu tão feliz que lembrei de uma música. 

Aliás, eu lembro de música em qualquer ocasião, é impressionante. Devo ter algum problema mental. Ou musical. Enfim... Lembrei de um trecho assim: "Without me, his world will go on turning. A world that's full of happiness that I have never known..

É de uma música linda, chamada On My Own, de um musical mais fantástico ainda, Les Misérables, baseado na obra extraordinária de Victor Hugo. E tudo isso com sua foto naquela rede social.

Eu poderia, na verdade, ter lembrado de qualquer outra música, garanto que o acervo na minha cabeça é infindável, mas não...! Lembrei justamente dessa. Talvez porque ela me remeta a uma verdade crua: "Sem mim, o mundo dele continuará acontecendo. Um mundo cheio de felicidade que eu nunca conheci..."

Naquele sorriso, naquela foto e nos cabelos que estão sumindo eu vi um mundo que continuou acontecendo sem o meu toque, sem o meu sofrimento, sem o meu seja-lá-o-que-quer-que-fosse. E pra falar a verdade, não imaginava que você poderia continuar acontecendo. É que não me parecia justo (uma rajada de egoísmo para desarrumar seus poucos fios).

Também vi pela foto que você, além de continuar acontecendo, ainda o fez acompanhado. Entendi a razão do sorriso torto e da leveza, faz sentido. O que lembra outra música: "Tire o seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor..." O Paulinho Moska matou a pau com essa.

Então é isso. 

Entre acordes, 
sons e silêncios, 
sequências,
intensidades, 
ritmos e melodias
vamos todos. 

E, dessa vez, eu não falava de música.

sábado, 14 de abril de 2012

Tenha Fé

Perder dinheiro é ruim. 
Perder o emprego, também.

Perder amigos e amores, idem.
É péssimo também perder os que nos são caros para a morte.

Perder a paciência, todos os dias acontece.
Perder as estribeiras, às vezes.

Perder a hora
O momento certo
A vez
A voz...


Mas, como diria A J Cronin, "inferno mesmo é ter perdido as esperanças".