segunda-feira, 30 de julho de 2012

Mal Traçadas Linhas

Se você fosse um diário, hoje eu escreveria sobre minha vida. Não toda ela, claro, só uma pequena parte.
Talvez o presente já fosse suficiente pra encher um punhado de páginas.
Eu escreveria sobre a maldade velada de algumas pessoas, sobre as atitudes grosseiras e gratuitas que recebo dia após dia e sobre como eu também - confesso - não consigo ser uma pessoa melhor e relevar tudo isso. Sobre como eu julgo e sou julgada com facilidade. Sobre como mudo de humor e alterno fé e desespero na mesma frase, no mesmo pensamento.
Também dedicaria algumas linhas para lhe contar sobre os meus sonhos de hoje (porque os de ontem já se foram), sobre como são lindos e perfeitos, mas são distantes na mesma proporção de sua beleza. 
Tão distantes que meus braços não conseguem alcançá-los. 
Ou preciso de braços maiores ou de sonhos mais palpáveis. 


Haveria ainda um capítulo sobre decisões, porque sonhos e decisões estão intimamente ligados, ainda que inversamente proporcionais. Algumas decisões que tomei foram acertadas, sem sombra de dúvidas, porém de outras me arrependo amargamente. Como não posso voltar o tempo, deixaria duas páginas em branco, em homenagem a tudo que poderia ter sido e não foi. Seria como uma espécie de luto às avessas.
Não sei se falaria dos meus sentimentos. Por mais que tenha tempo para isso, me faltariam palavras. Há certas coisas que, inclusive, nem deveriam ir para o papel. Sou a favor de segredos nesse caso (e em outros casos também). Porém posso dar uma colher de chá e rabiscar algumas dicas: insegurança, serenidade, rancor, alegria, arrependimento, plenitude, mágoa, compaixão, tristeza, inveja, empatia. 
E ainda há espaço para mais um tanto que deixo no ar.
Se você fosse um diário, hoje eu rabiscaria com tanta força que seria capaz de rasgar um pedaço seu. Mas isso não seria um problema, sei que você consegue conviver com suas cicatrizes tão bem quanto eu consigo conviver com as minhas. E não são poucas. O que me remete a outra variável dessa equação: sonhos-decisões-cicatrizes. Fato: essa equação agrega cada vez mais elementos e nem sempre tem um final feliz.
Se você fosse um diário, depois de desabafar tudo isso, eu me sentiria mais leve, mais humana, menos responsável, mais fiel ao que eu realmente sou. E lhe seria imensamente grata por me ouvir, por me dar a chance de compartilhar seja lá o que isso tenha sido: um desabafo, um momento de sinceridade, uma vontade. Fecharia suas páginas, o poria em cima da mesa e sairia pra viver um pouco mais. Porque só assim eu teria mais para escrever amanhã.

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